São estórias contadas por Jesus para facilitar o entendimento da mensagem. O Senhor se utiliza de coisas da vida cotidiana da sociedade agrária da época como semente, grão de mostarda, tesouro, pérola, rede de pescaria, para ensinar sobre o Reino de Deus. Como os ouvintes eram pessoas simples, do povo, que muitas vezes não sabiam ler e escrever, utiliza Jesus das parábolas, sendo que os ouvintes iriam transmiti-las oralmente para quem não estava presente na hora que Jesus falou. E assim as estórias iam ficando mais e mais populares.
2. Parábolas do Reino.
No capítulo 13 de Mateus, no 4 de Marcos e nos capítulos 8 e 13 de Lucas, estão as parábolas em que Jesus anuncia o Reino de Deus. São, em verdade, sete: 1. O Semeador; 2. O joio e o trigo; 3. O grão de mostarda; 4. O fermento que a mulher põe na massa; 5. O tesouro escondido; 6. A pérola preciosa; 7. A rede jogada ao mar.
ATENÇÃO: O Senhor se utiliza de objetos, de figuras bem conhecidas do povo.
3. O Semeador.
3.1 – A sementeira é feita por nós, assim como foi feita pelos apóstolos e pelos profetas (Santo Agostinho). O Semeador é o próprio Jesus, só ele é quem semeia. Por isso, não devemos ficar orgulhosos. Entusiasmados sim, orgulhosos, vaidosos, competitivos, não! A sementeira é a paróquia, os grupos, a juventude. Temos que zelar por eles para que ocorra o semeio.
3.2 – O ato de semear. É uma atividade perene. Vale lembrar que o homem deixou de ser nômade e passou a ser sedentário, a se fixar em determinado lugar, quando passou a semear a terra. Não se semeia só uma vez, a atividade é contínua. A Igreja vem semeando há mais de dois mil anos. Assim, a nossa função de semear a palavra de Deus, que é a semente verdadeira que dá excelentes frutos, todos os dias, em todas as oportunidades, com palavras e ações, através do nosso testemunho de jovem dentro do Inquietude, na paróquia, na escola, no trabalho, no namoro, com os amigos. O trabalho de semear é cotidiano e há de se ter zelo e dedicação para que surjam bons frutos. Não podemos desanimar! Eis como nos exorta o nosso pai Agostinho: “Com efeito, o que importa que o grão de trigo caia à beira do caminho, sobre as pedras ou entre os espinhos? Se ele se deixasse desencorajar por este lugares ingratos, não avançaria até à boa terra!” (Sermão 101).
3.3 – A semente é palavra de Deus. Como diz Santo Agostinho nós encontramos Deus em duas mesas: na mesa da eucaristia e na mesa da palavra. A palavra é como a chuva que rega a terra e não volta para o céu sem ter produzido fruto (Isaías 55, 10-11).
3.4 – A semente caiu à beira do caminho. Como o próprio Jesus explica, a semente que caiu à beira do caminho é aquele que ouve a palavra, mas não a entende, não busca aprofundar, apenas ouve, escuta, mas não vivencia e logo o mal tira esta palavra dela. Na verdade, a palavra sequer foi absorvida, compreendida. Não houve um verdadeiro encontro, como o de Zaqueu com Jesus (Lc 19), que meditamos na reunião passada.
3.5 – A semente caiu no pedregulho. A semente não germinou porque a terra não era profunda. Assim que o sol saiu, queimou e como não tinha raiz, secou. Aqui o Senhor nos indica que esta semente é aquele que recebe a palavra com alegria, mas como é uma pessoa inconstante, quando aparece uma tribulação, uma perseguição por causa da palavra, logo desiste. Não persevera, é fraco, cheio de dúvidas.
3.6 – A semente caiu entre os espinhos. Neste caso, os espinhos cresceram e sufocaram as sementes. Como o próprio Jesus ensina tais espinhos são as preocupações mundanas, a ilusão das riquezas, as diversas cobiças que não permitem que a semente cresça no coração do homem. Ouve-se a palavra, mas a preocupação com as coisas materiais, a cobiça do dinheiro, da gula, da sensualidade, da soberba, do orgulho, terminam por sufocar a semente.
3.7 – A semente caiu em boa terra. Aí a semente da palavra foi jogada, cuidada, tendo caído em terra boa, cresceu e floresceu, dando frutos trinta, sessenta e cem por um, ou seja, muitos frutos. Este caso acontece com quem recebe a palavra, a escuta com atenção e passa a vivê-la diariamente, dando frutos da presença de Deus, frutos como paz, alegria e amor, como diz Paulo ao relatar os frutos do Espírito Santo.
SERMÃO 101 DE SANTO AGOSTINHO.
CEM, SESSENTA E TRINTA POR UM
A sementeira foi feita pelos apóstolos e pelos profetas, mas é o próprio Senhor que semeia. É o próprio Senhor que está presente neles, pois foi o próprio Senhor que fez a colheita. Porque, sem Ele, eles não são nada, enquanto que Ele, sem eles, permanece na Sua perfeição. Com efeito, Ele disse-lhes: ‘Sem Mim nada podeis fazer’ (Jo 15, 5). Semeando portanto entre as nações, que disse Cristo? ‘Um semeador saiu para semear’ (Mt 13, 3). Noutro texto, os semeadores foram enviados para colher; agora, o semeador sai para semear, e não se queixa do trabalho. Com efeito, o que importa que o grão de trigo caia à beira do caminho, sobre as pedras ou entre os espinhos? Se ele se deixasse desencorajar por este lugares ingratos, não avançaria até à boa terra!....
É de nós que se trata: seremos esse caminho, essas pedras, esses espinhos? Queremos ser boa terra? Dispomos o nosso coração a produzir trinta vezes mais, sessenta vezes mais, cem vezes, mil vezes mais? Trinta vezes, mil vezes, sempre trigo e apenas trigo. Não sejamos mais esse caminho onde a semente é pisada por quem passa e onde o nosso inimigo a agarra como os pássaros. Nem essas pedras onde uma terra pouco profunda faz germinar rapidamente um grão que não consegue resistir ao calor do sol. Nunca mais esses espinhos, as ambições deste mundo, este hábito de fazer o mal. Com efeito, que coisa pior pode haver do que aplicar todos os esforços a uma vida que impede de chegar à vida? Que coisa mais infeliz escolher a vida para perder a vida? Que coisa mais triste que temer a morte para sucumbir ao poder da morte? Arranquemos os espinhos, preparemos o terreno, recebamos a semente, agüentemos até a colheita, aspiremos a ser arrecadados nos celeiros.
Santo Agostinho – Sermão 101.
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