quarta-feira, 31 de agosto de 2011



"Tarde Vos amei,
ó Beleza tão antiga e tão nova,
tarde Vos amei!
Eis que habitáveis dentro de mim,
e eu, lá fora, a procurar-Vos!
Disforme, lançava-me sobre estas formosuras que criastes.
Estáveis comigo e eu não estava Convosco!
Retinha-me longe de Vós
aquilo que não existiria,
se não existisse em Vós.
Porém, chamastes-me,
com uma voz tão forte,
que rompestes a minha Surdez!
Brilhastes, cintilastes,
e logo afugentastes a minha cegueira!
Exalastes Perfume:
respirei-o, a plenos pulmões, suspirando por Vós.
Saboreei-Vos
e, agora, tenho fome e sede de Vós.
Tocastes-me
e ardi, no desejo da Vossa Paz"

terça-feira, 16 de agosto de 2011

A família é Deus manifestado humanamente.

Deus está sempre sempre conosco. Nos espera, nos protege, nos ama. Ele é a nossa garantia amorosa de sustento nos momentos difíceis.

Tem amor mais parecido de Deus do que o amor que nossa família tem por nós? Amor incondicional, onipresente, que não pede nada em troca, fiel, verdadeiro ... Que nesse mês da família, possamos repensar, reordenar nossos amores e priorizar àqueles que sempre nos colocaram como prioridade em suas vidas.


sábado, 13 de agosto de 2011

Ainda Bem


No final da tarde, o dia já caindo, a noite escura e fria chegando, recebi um papelzinho onde a notícia estava escrita. Positivo, ele virá!
            Não sei se ria, se chorava, se comemorava, se ligava para alguém ou se me mantinha calado, em profunda oração, como um monge em sua cela. Só sei que o meu coração batia mais forte, inquieto, num misto de alegria e apreensão, na convicção de  que a minha vida dali em diante não seria a mesma.
            Meses depois, me encontrei com ele. Já tinha ouvido o pulsar de seu coração, já tinha lhe visto, ainda que de maneira rápida e parcial, na fria sala de exames por imagem, mas o esperava ansiosamente.
            Quando os nossos olhos se encontraram, quando lhe toquei pela primeira vez, compreendi a harmonia dos músicos, a graça dos palhaços, a rima dos poetas, o drama dos românticos, o medo dos inseguros, a coragem dos fortes, a incredulidade dos céticos e a fé dos crentes.
 A vida, de repente, se tornou clara, a confiança de que tudo daria certo e o receio de que tudo poderia dar errado vieram juntos, em parcelas quase idênticas, a preencher o meu vazio.
            A visão que tive ao vê-lo pela primeira vez foi única para mim. Sei que é a mesma visão que José e Maria tiveram ao ver o menino na manjedoura do primeiro presépio. Sei que é a visão que o pai pedreiro, o pai doutor, o pai branco, o pai negro, o pai daqui ou do outro lado do mundo tem: porém, é uma visão singular.  
            Ao encontrar com você, meu filho, coisas que tinham valor passaram a ser irrelevantes, desejos que eu tinha foram consciente, voluntária e alegremente adiados, o meu sonho passou a ser nosso sonho e a minha vida não somente é nossa, com é tua.
            Ainda hoje fico a pensar como um ser tão pequenino, sem dentes, sem cabelo, sem fala, sem força, pode alterar toda a trajetória de uma vida e, o melhor, tornar esta vida mais saborosa, com o fermento do amor que faz a massa da felicidade crescer.
            Este encontro com este pequeno ser, tão humano e tão divino, MEU FILHO, fez com que a minha vida nunca mais fosse a mesma.
             Ainda bem...
                                                           Leonardo Buissa.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

domingo, 7 de agosto de 2011

A vocação

1.    Agosto, mês das vocações.

Durante este mês de agosto, a Igreja celebra o mês das vocações. Vocação é um chamado. Somos convocados. Convocados para o que? Primeiramente, para sermos imagem e semelhança de Deus, ou seja, para sermos santos. Onde? Em qualquer lugar que estivermos. O nosso encontro com Jesus nos revela a nossa verdadeira vocação.
Encontrar Jesus é uma experiência ímpar na vida, experiência que tem a força de mover montanhas, de transformar água em vinho, de fazer enxergar, ouvir, caminhar, enfim, de viver na presença Dele.
Este encontro não precisa de um lugar paradisíaco, de um momento diferente, de uma situação extraordinária. O encontro se dá no ordinário, no cotidiano da vida. Jesus encontrou Levi (o apóstolo Mateus) no seu lugar de trabalho, na aduana, na alfândega, na repartição pública, onde ele trabalhava como cobrador de impostos.
O encontro não necessariamente passa por uma sensação diferente, por uma emoção extrema. Jesus é manso e suave. Ele é educado e respeita as nossas limitações, as nossas paixões, a nossa estória de vida. No encontro com Levi, como se abordará adiante, o apóstolo não saiu pulando, chorando, desmaiando. Ele ouviu Jesus lhe chamar – Vem e segue-me – e o seguiu e depois convidou o Mestre para almoçar. Simples assim.
O Senhor se revela na simplicidade do dia a dia: na sua família, no namoro, na escola, nos amigos, nas reuniões da comunidade, nas festinhas, nas missas, enfim no ordinário.
O encontro com Jesus tem sim um fruto direto, uma manifestação externa que não dá para esconder: o amor! O coração se enche de amor. Como diz a música do caranguejo, a boca fala do que o coração tá cheio, tá cheio de amor... Amor pelo outro, amor em casa, amor na escola, amor pelo Grupo Inquietude. Uma chama que não pára de brilhar. Como diz nosso pai Agostinho: “O amor é uma chama inquieta. Não pode ficar parado.”
      A nossa vocação, como imagem e semelhança de Deus, é ser amor, porque Deus é amor e quem ama permanece em Deus.
A vocação não é somente do padre. É de cada um de nós. Por isso, a Igreja celebra no primeiro domingo a Vocação presbiterial, no segundo a familiar, no terceiro a religiosa e no último a de leigos. Todos são chamado, qual é a nossa resposta?
                                                                                        
2.       A vocação de Levi: localização.
 A passagem da vocação de Levi se encontra nos três evangelhos sinóticos, ou seja, em Mateus, em Marcos e em Lucas. Nós vamos nos apoiar na narração de Lucas.  no capítulo 5, versículos 27-39.
Importante observar que o episódio do encontro de Jesus com Levi se dá logo após a cura de um paralítico. Depois de tal cura, diz o evangelista que “todos ficaram transportados de entusiasmo e glorificavam a Deus; e tomados de temor, diziam: ‘Hoje vimos coisas maravilhosas.’(Lc 5,26)
Interessante notar que logo após ser exaltado pelo povo, Jesus é acidamente criticado pelos fariseus e escribas por ter se sentado à mesa com os publicanos e pessoas de má índole (Lc 5, 30). A inconstância do povo que seguia Jesus é bem semelhante à nossa própria inconstância. Quantas vezes, na primeira contrariedade que temos, nos esquecemos de tudo que Jesus tem feito em nossas vidas?

3.    A vocação de Levi: reflexão.
Lucas, no capítulo 5, versículos 27 e 28 narra que depois de curar o paralítico, Jesus saiu e viu sentado no balcão um coletor de impostos, por nome Levi, e disse-lhe: ‘Segue-me’. Deixando ele tudo, levantou-se e o seguiu.
Jesus foi encontrar Levi, que na verdade é o apóstolo Mateus, quando este estava trabalhando, ou seja, num dia normal de sua vida. O encontro com Cristo não precisou de um grande acontecimento, de uma catarse, de uma enxurrada de emoções. Foi um encontro simples e direto, em que o Mestre chamou Mateus: “Segue-me.”
Jesus nos encontra na vida cotidiana. Ele não nos retira do mundo, não nos aliena, mas sim nos encontra na escola, na família, no namoro, na comunidade de jovens, enfim na nossa vida de jovens que possuem um coração inquieto.
Mateus, ou Levi, era coletor de impostos e estava sentado no balcão. Como se vê também na passagem de Zaqueu (Lc 19, 1-10), os cobradores de impostos eram mal vistos pela população, eram considerados pecadores, ladrões, corruptos, ou seja, pessoas de má fama. Jesus não se importa com isso e os chama para a conversão. Aliás, tanto na passagem do encontro de Zaqueu quanto na presente passagem, há a mesma ideia, qual seja, a de que Jesus veio salvar o que estava perdido, de que quem precisa de médico é o enfermo e não o são.
Jesus quer nos encontrar, pouco importando qual tenha sido o nosso passado. O importante não é o passado, mas o presente e o futuro. O Senhor quer fazer conosco do Inquietude um encontro. Ele sabe bem sobre o nosso passado, as nossas tristezas, as nossas decepções, enfim, dos erros e acertos que nós, como todo mundo, tem para apresentar.
Por último, vale observar que a Palavra diz que Levi deixou tudo, levantou-se e seguiu a Jesus.
Deixar tudo. Como é importante esta parte. Deixar tudo o que impede de se ter um encontro verdadeiro, sincero, puro, com Jesus. Deixar para trás a preguiça, o comodismo, a vaidade, o orgulho, o rancor. Abandonar tudo o que atrapalha a encontrar visceralmente com o Sagrado, como fizeram vários santos e santas de Deus na história da Salvação.
Não somente deixou tudo, como também se levantou. Levantar é ter uma atitude, é não ficar parado, esperando que as coisas aconteçam, é fazer acontecer. Somos convocados a levantar, a sair do lugar, da inércia, para a cada dia mais participar das atividades do Inquietude dentro da Paróquia.
Levantar, mudar de posição, assumir a postura de sentinela, inquietar-se com a injustiça, com o pecado e seguir Jesus, como se segue um amigo que tem algo muito legal a mostrar. E Jesus tem mesmo algo a mostrar: uma vida simples, feliz, compartilhada com quem amamos e partilhada com quem de nós necessita.

4.    O banquete com os fiscais.
Depois de encontrar Jesus, Levi decide lhe oferecer um grande banquete. Lucas narra tal acontecimento na sequência, ou seja, nos versículos 29 a 32.
Primeiramente, o que se nota é que o encontro com Jesus traz alegria e por isso a vontade de Levi de celebrar. Levi chamou os amigos para a sua casa (vs. 29). A presença de Jesus em nossa vida nos conduz a querer compartilhá-la com os amigos, parentes, amigos, como fez Levi.
Como Jesus aceitou o convite para estar com os fiscais e outros amigos de Levi, os fariseus e escribas começaram a criticá-lo, dizendo que ele comia e bebia com os publicanos e pessoas de má vida (vs. 30).
Jesus então lhes responde: “Não são os homens de boa saúde que necessitam de médico, mas sim os enfermos. Não vim chamar à conversão os justos, mas sim os pecadores.” (vs. 31-32).
Esta é, sem dúvida, uma passagem muito conhecida e que sintetiza a missão de Jesus. Ele veio para nós, fracos, pecadores, doentes. Nós todos somos chamados à conversão.
São Paulo, na Carta aos Romanos, bem esclarece sobre esta missão de Jesus de vir ao encontro dos pecadores. Diz o Apóstolo dos Gentios: “ Com efeito, quando éramos ainda fracos, Cristo a seu tempo morreu pelos ímpios. Em rigor, a gente aceitaria morrer por um justo, por um homem de bem, quiçá se consentiria em morrer. Mas eis aqui uma prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós.” (Rom 5, 6-9).
O próprio Jesus ao escolher os doze discípulos que seriam os doze apóstolos (Mt. 10, 1-7) manda ele irem primeiramente resgatar as ovelhas perdidas da casa de Israel (vs. 6).
Devemos, pois, no Inquietude, ter uma atenção especial por aqueles que estão excluídos, afastados, por aqueles que não são “populares” e que precisam da nossa acolhida, da nossa amizade, da nossa palavra de entusiasmo!

5.    A vocação e a mudança de vida.
Levi teve um encontro pessoal e definitivo com Jesus. O encontro mudou a sua vida, a sua conduta no dia a dia. Levi não precisou ver os milagres de Jesus, não necessitou sentir alguma coisa, ter uma emoção muito forte, mas o encontro mudou para sempre a sua vida. Ele se tornou apóstolo de Jesus e evangelista, narrando as passagens de Jesus no primeiro dos Evangelhos do Novo Testamento.
Não é possível encontrar Jesus e continuar na mesma.
A vocação é um chamado, uma convocação. Somos convocados para uma missão. Só é convocado quem tem alguma habilidade. Estamos aproveitando das habilidades que Deus nos concede? O que nos atrapalha a colocar os dons a serviço? Estamos escondendo os nossos talentos?
Somos escolhidos por amor e para o amor; esta é a missão!
Algo bom há de acontecer e é para sempre...
Leonardo Buissa

A busca de Deus é a busca da alegria. O encontro com Deus é a própria alegria."(Santo Agostinho)

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O Jovem Rico

“O motivo principal pelo qual reuniste em Comunidade é este: viver em casa em perfeito acordo, não tendo senão uma só alma e um só coração voltados para Deus. E não chamais nada de próprio, mas tudo entre vós seja comum.” (Santo Agostinho)


1.    Encontrar Jesus.
Durante este mês de julho de 2011, a proposta do Grupo Inquietude é meditar, estudar e vivenciar encontros marcantes de Jesus com certas pessoas, encontros estes que mudaram as vidas destas pessoas.
Encontrar Jesus é uma experiência ímpar na vida, experiência que tem a força de mover montanhas, de transformar água em vinho, de fazer enxergar, ouvir, caminhar, enfim, de viver na presença Dele.
Este encontro não precisa de um lugar paradisíaco, de um momento diferente, de uma situação extraordinária. O encontro se dá no ordinário, no cotidiano da vida. Jesus encontrou Levi (o apóstolo Mateus) no seu lugar de trabalho, na aduana, na alfândega, na repartição pública, onde ele trabalhava como cobrador de impostos. Jesus encontrou Pedro no seu lugar de trabalho, ou seja, pescando. Jesus encontrou Paulo quando este ia perseguir os discípulos em Damasco.
O encontro não necessariamente passa por uma sensação diferente, por uma emoção extrema. Jesus é manso e suave. Ele é educado e respeita as nossas limitações, as nossas paixões, a nossa estória de vida. O Senhor se revela na simplicidade do dia a dia: na sua família, no namoro, na escola, nos amigos, nas reuniões da comunidade, nas festinhas, nas missas, enfim no ordinário.
O encontro com Jesus tem sim um fruto direto, uma manifestação externa que não dá para esconder: o amor! O coração se enche de amor. Como diz a música do caranguejo, a boca fala do que o coração tá cheio, tá cheio de amor... Amor pelo outro, amor em casa, amor na escola, amor pelo Grupo Inquietude. Uma chama que não pára de brilhar. Como diz nosso pai Agostinho: “O amor é uma chama inquieta. Não pode ficar parado.”
Nós, do Inquietude, vamos buscar encontrar este amor, esta chama inquieta, que não nos deixa ficar parados, que nos move a Deus e ao irmãos.

2.    Localização do tema: o jovem rico.

A famosa passagem do jovem rico se encontra nos três evangelhos sinóticos, ou seja, em Mateus, Marcos e Lucas. Nós vamos fazer uma reflexão sobre a narrativa do evangelho de Mateus, capítulo 19, versículos 16 a 26.
Jesus encontra este jovem quando está na Judéia, além do Jordão. É uma parte do evangelho conhecido como Ministério de Jesus na Judéia.
A passagem do jovem rico é logo após a também famosa passagem das criancinhas quando Jesus diz: “Deixai vir a mim estas criancinhas e não as impeçais, porque o Reino dos céus é para aqueles que se lhes assemelham” (Mt 19,14)
Interessante notar que devemos ter um coração puro e simples de crianças para alcançar o Reino dos Céus. Mas nós do Inquietude já deixamos de ser crianças, somos jovens, com o coração inquieto, próprio da juventude, ansiamos por respostas, por soluções, como o jovem da passagem.
E como ele, qual será a nossa resposta ao encontro pessoal e verdadeiro com Jesus?

3.    O Encontro com o jovem rico.
Vamos, primeiramente, refletir sobre o encontro em si. Tal parte está nos versículos 16 a 22 do capítulo 19 do evangelho de São Mateus.
Em primeiro lugar, observa-se que o jovem é que veio ao encontro de Jesus. Não foi Jesus que saiu atrás dele, querendo converter-lhe a todo o custo. Ele, assim como nós do Inquietude, tinha um coração inquieto e foi ao encontro de Jesus.
O jovem então se aproxima de Jesus (vs. 16). Para haver um encontro é necessário aproximar-se. A gente se aproxima, quando conhece. E a gente conhece quando está próximo. É uma via de mão dupla. Para conhecer Jesus é necessário, primeiramente, se aproximar dele no dia a dia, na vida de oração pessoal, na comunidade, na mesa da palavra e da comunhão.
Ao se aproximar, o jovem faz ao Mestre a seguinte pergunta: “Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?” No que Jesus responde: “Só Deus é bom.”
Nesta primeira resposta, Jesus já indica ao jovem e a nós que para sermos bons temos que estar ligados ou melhor religados (daí a expressão religião, que é a religação do homem a Deus) Àquele que é a própria expressão da bondade, o Pai criador e bondoso, que Jesus nos ensina a chamar de “ABBA”, ou seja, de papai, de papaizinho, de maneira carinhosa, simples e próxima.
Estar com Deus é requisito imprescindível para sermos bons! Ter Deus no coração, agir de conformidade com o amor de Deus, que enche os nossos corações e nos impele a amar os outros. Somos irmãos porque o Deus de bondade é o nosso Pai, o Pai de todos!
Depois, Jesus prossegue e diz que o jovem deve respeitar os mandamentos. Na verdade, os mandamentos são as regras básicas para uma harmônica convivência na sociedade, como ensina o monge beneditino alemão Anselm Grün no livro Os Dez Mandamentos, Orientações para uma vida feliz, editado pela Editora Vozes. Não matar, não cometer adultério, não furtar, não dar falso testemunho, honrar os pais e amar o próximo como a ti mesmo é praticamente a perfeição da conduta da pessoa.
Eu disse “é praticamente” de propósito, uma vez que ainda falta uma coisa a mais... O que?
O jovem diz a Jesus: “Tenho observado tudo isto desde a minha infância. Que me falta ainda?” (vs.20). Veja que o jovem da passagem era um bom judeu, muito fiel e zeloso. A gente o conhece por jovem rico, mas bem podíamos chamá-lo de o jovem fiel, o jovem bom, o jovem zeloso. Todos estes bons adjetivos servem para este jovem.
E ainda um a mais: um jovem inquieto. Onde a gente percebe a sua inquietude? Quando ele diz “que me falta ainda?” Na verdade, para os outros, para a sociedade judaica da época, não faltava nada mais. Ele já era um jovem perfeito. Mas o seu coração lhe dizia que ainda faltava algo para alcançar a plenitude do conhecimento e do amor a Deus, ou seja, para ter a vida eterna.
O jovem aspirava a ter esta vida eterna. E não é uma vida eterna lá no futuro, depois que ele fosse velho e então morresse e tivesse o encontro com Deus no céu. A vida eterna se dá no aqui e agora, uma vez que ela brota do seu interior. Há um outro livro interessante de Anselm Grün que se chama “O céu começa em você”, que indica neste sentido, vale dizer, que a vida eterna começa em você, no seu dia a dia, na sua família, nos seus estudos, no seu trabalho, na sua espiritualidade individual e comunitária.
Só que a resposta do jovem não foi a que ele esperava. Disse-lhe Jesus: “ Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobre e terá um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!” (vs. 21-22).
Jesus então chama o jovem a segui-lo. Mas para tanto o jovem teria que  vender os seus bens e dar aos pobres. Aqui um chamamento ao desapego e à caridade.
Vender os bens é se desapegar das coisas, por menores que elas sejam. Conta Jean Ives Leloup, no livro Escritos sobre o Hesicasmo, que um monge havia abandonado tudo para viver a vida monástica, em oração, jejum, pobreza, enfim em total abandono. Na sua cela, ele tinha apenas uma caminha, uma mesinha, onde ficava um lápis, um caderno e uma borracha, com o que ele anotava as suas reflexões. Um dia, um outro monge pegou a borracha emprestado e não devolveu. O monge então ficou ansioso, nervoso ou, como dizem os jovens hoje, tenso. Uma simples borracha que ele não conseguir se desapegar.
       Muitas vezes quando vejo pessoas criando caso com coisas pequenas, em casa, no trabalho, na escola, no trânsito, na Igreja, sempre me lembro da borrachinha. Como é difícil se libertar das coisas que julgamos ter, quando de fato nada temos que não nos tenha sido dado por Deus...
E não só desapegar das coisas como também colocá-las a serviço do outro. O meu tempo, os meus dons, as minhas idéias, o mau amor entregue aos “pobres de Deus”, ou seja, àqueles que deles necessitam, que necessariamente não precisam ser pobres materialmente.
O jovem, contudo, ouvindo as palavra, foi embora triste, porque possuía muitos bens.
A negativa do jovem de seguir Jesus trouxe como conseqüência a sua tristeza. Ele que cumpria todos os mandamentos, que estava sempre no templo, não conseguiu se desapegar das suas coisas, das suas manias, dos seus “bens” para seguir Jesus.
E nós, quais os “bens” temos que vender para seguir decididamente Jesus?

4.    A resposta do jovem rico: comparação com outros encontros e outras respostas.

Vale notar que o jovem rico não conseguir dar uma resposta positiva a Jesus. Foi ele quem foi atrás do Mestre e desejou o encontro. Ele era um cara bom, mas não conseguiu se desvencilhar das coisas para seguir Jesus. Por isso, ficou triste.
Santo Agostinho nos diz que:"A busca de Deus é a busca da alegria. O encontro com Deus é a própria alegria." Encontrar Jesus nos dá uma alegria permanente  e, por vezes, inexplicável do ponto de vista meramente material.
Diz também o Pai de nossa comunidade:"O pecado é o motivo de tua tristeza. Deixa que a santidade seja o motivo de tua alegria."(Santo Agostinho)
Esta experiência que o jovem rico não conseguiu ter, muitos tiveram. Na reunião passada, nós vimos a resposta de Pedro e Paulo que disseram sim ao chamado. Levi, que era outro nome de Mateus, foi chamado e também disse sim.
Santo Antão, em 270, quando tinha por volta de vinte anos, leu a passagem do jovem rico e resolveu fazer um caminho diferente. Ele e a irmã tinham ficado órfãos e os pais lhes deixaram uma grande fortuna. Antão separou uma parte para os estudos da irmã e o resto vendeu, deu aos pobres e foi viver como um monge, indo depois viver no deserto do Egito, iniciando aí a tradição dos monges do deserto, dos grandes padres do século IV e V, inclusive, posteriormente, de Santo Agostinho, que igualmente teve a experiência de vender tudo e criar um mosteiro para a sua comunidade.
O encontro e o chamado é para cada um. A resposta a ser dada depende de você!

5.    Explicação de Jesus.
Nos versículos 23-26, Jesus diz ser difícil a um rico entrar no Reino dos Céus. Mas, Ele diz também: “Aos homens isto é impossível, a Deus tudo é possível.”
Para fazer o encontro com Jesus, temos, como dito antes, que abandonar uma série de “bens”, de manias, vícios. Mas a força vem do próprio Deus, pois para Ele nada é impossível.
Finalizando, vale trazer mais um pensamento de Agostinho:"Só o que faz bem ao homem pode fazê-lo feliz."
Sejamos felizes!

Leonardo Buissa, julho de 2011.