sábado, 13 de agosto de 2011

Ainda Bem


No final da tarde, o dia já caindo, a noite escura e fria chegando, recebi um papelzinho onde a notícia estava escrita. Positivo, ele virá!
            Não sei se ria, se chorava, se comemorava, se ligava para alguém ou se me mantinha calado, em profunda oração, como um monge em sua cela. Só sei que o meu coração batia mais forte, inquieto, num misto de alegria e apreensão, na convicção de  que a minha vida dali em diante não seria a mesma.
            Meses depois, me encontrei com ele. Já tinha ouvido o pulsar de seu coração, já tinha lhe visto, ainda que de maneira rápida e parcial, na fria sala de exames por imagem, mas o esperava ansiosamente.
            Quando os nossos olhos se encontraram, quando lhe toquei pela primeira vez, compreendi a harmonia dos músicos, a graça dos palhaços, a rima dos poetas, o drama dos românticos, o medo dos inseguros, a coragem dos fortes, a incredulidade dos céticos e a fé dos crentes.
 A vida, de repente, se tornou clara, a confiança de que tudo daria certo e o receio de que tudo poderia dar errado vieram juntos, em parcelas quase idênticas, a preencher o meu vazio.
            A visão que tive ao vê-lo pela primeira vez foi única para mim. Sei que é a mesma visão que José e Maria tiveram ao ver o menino na manjedoura do primeiro presépio. Sei que é a visão que o pai pedreiro, o pai doutor, o pai branco, o pai negro, o pai daqui ou do outro lado do mundo tem: porém, é uma visão singular.  
            Ao encontrar com você, meu filho, coisas que tinham valor passaram a ser irrelevantes, desejos que eu tinha foram consciente, voluntária e alegremente adiados, o meu sonho passou a ser nosso sonho e a minha vida não somente é nossa, com é tua.
            Ainda hoje fico a pensar como um ser tão pequenino, sem dentes, sem cabelo, sem fala, sem força, pode alterar toda a trajetória de uma vida e, o melhor, tornar esta vida mais saborosa, com o fermento do amor que faz a massa da felicidade crescer.
            Este encontro com este pequeno ser, tão humano e tão divino, MEU FILHO, fez com que a minha vida nunca mais fosse a mesma.
             Ainda bem...
                                                           Leonardo Buissa.

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