quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O Jovem Rico

“O motivo principal pelo qual reuniste em Comunidade é este: viver em casa em perfeito acordo, não tendo senão uma só alma e um só coração voltados para Deus. E não chamais nada de próprio, mas tudo entre vós seja comum.” (Santo Agostinho)


1.    Encontrar Jesus.
Durante este mês de julho de 2011, a proposta do Grupo Inquietude é meditar, estudar e vivenciar encontros marcantes de Jesus com certas pessoas, encontros estes que mudaram as vidas destas pessoas.
Encontrar Jesus é uma experiência ímpar na vida, experiência que tem a força de mover montanhas, de transformar água em vinho, de fazer enxergar, ouvir, caminhar, enfim, de viver na presença Dele.
Este encontro não precisa de um lugar paradisíaco, de um momento diferente, de uma situação extraordinária. O encontro se dá no ordinário, no cotidiano da vida. Jesus encontrou Levi (o apóstolo Mateus) no seu lugar de trabalho, na aduana, na alfândega, na repartição pública, onde ele trabalhava como cobrador de impostos. Jesus encontrou Pedro no seu lugar de trabalho, ou seja, pescando. Jesus encontrou Paulo quando este ia perseguir os discípulos em Damasco.
O encontro não necessariamente passa por uma sensação diferente, por uma emoção extrema. Jesus é manso e suave. Ele é educado e respeita as nossas limitações, as nossas paixões, a nossa estória de vida. O Senhor se revela na simplicidade do dia a dia: na sua família, no namoro, na escola, nos amigos, nas reuniões da comunidade, nas festinhas, nas missas, enfim no ordinário.
O encontro com Jesus tem sim um fruto direto, uma manifestação externa que não dá para esconder: o amor! O coração se enche de amor. Como diz a música do caranguejo, a boca fala do que o coração tá cheio, tá cheio de amor... Amor pelo outro, amor em casa, amor na escola, amor pelo Grupo Inquietude. Uma chama que não pára de brilhar. Como diz nosso pai Agostinho: “O amor é uma chama inquieta. Não pode ficar parado.”
Nós, do Inquietude, vamos buscar encontrar este amor, esta chama inquieta, que não nos deixa ficar parados, que nos move a Deus e ao irmãos.

2.    Localização do tema: o jovem rico.

A famosa passagem do jovem rico se encontra nos três evangelhos sinóticos, ou seja, em Mateus, Marcos e Lucas. Nós vamos fazer uma reflexão sobre a narrativa do evangelho de Mateus, capítulo 19, versículos 16 a 26.
Jesus encontra este jovem quando está na Judéia, além do Jordão. É uma parte do evangelho conhecido como Ministério de Jesus na Judéia.
A passagem do jovem rico é logo após a também famosa passagem das criancinhas quando Jesus diz: “Deixai vir a mim estas criancinhas e não as impeçais, porque o Reino dos céus é para aqueles que se lhes assemelham” (Mt 19,14)
Interessante notar que devemos ter um coração puro e simples de crianças para alcançar o Reino dos Céus. Mas nós do Inquietude já deixamos de ser crianças, somos jovens, com o coração inquieto, próprio da juventude, ansiamos por respostas, por soluções, como o jovem da passagem.
E como ele, qual será a nossa resposta ao encontro pessoal e verdadeiro com Jesus?

3.    O Encontro com o jovem rico.
Vamos, primeiramente, refletir sobre o encontro em si. Tal parte está nos versículos 16 a 22 do capítulo 19 do evangelho de São Mateus.
Em primeiro lugar, observa-se que o jovem é que veio ao encontro de Jesus. Não foi Jesus que saiu atrás dele, querendo converter-lhe a todo o custo. Ele, assim como nós do Inquietude, tinha um coração inquieto e foi ao encontro de Jesus.
O jovem então se aproxima de Jesus (vs. 16). Para haver um encontro é necessário aproximar-se. A gente se aproxima, quando conhece. E a gente conhece quando está próximo. É uma via de mão dupla. Para conhecer Jesus é necessário, primeiramente, se aproximar dele no dia a dia, na vida de oração pessoal, na comunidade, na mesa da palavra e da comunhão.
Ao se aproximar, o jovem faz ao Mestre a seguinte pergunta: “Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?” No que Jesus responde: “Só Deus é bom.”
Nesta primeira resposta, Jesus já indica ao jovem e a nós que para sermos bons temos que estar ligados ou melhor religados (daí a expressão religião, que é a religação do homem a Deus) Àquele que é a própria expressão da bondade, o Pai criador e bondoso, que Jesus nos ensina a chamar de “ABBA”, ou seja, de papai, de papaizinho, de maneira carinhosa, simples e próxima.
Estar com Deus é requisito imprescindível para sermos bons! Ter Deus no coração, agir de conformidade com o amor de Deus, que enche os nossos corações e nos impele a amar os outros. Somos irmãos porque o Deus de bondade é o nosso Pai, o Pai de todos!
Depois, Jesus prossegue e diz que o jovem deve respeitar os mandamentos. Na verdade, os mandamentos são as regras básicas para uma harmônica convivência na sociedade, como ensina o monge beneditino alemão Anselm Grün no livro Os Dez Mandamentos, Orientações para uma vida feliz, editado pela Editora Vozes. Não matar, não cometer adultério, não furtar, não dar falso testemunho, honrar os pais e amar o próximo como a ti mesmo é praticamente a perfeição da conduta da pessoa.
Eu disse “é praticamente” de propósito, uma vez que ainda falta uma coisa a mais... O que?
O jovem diz a Jesus: “Tenho observado tudo isto desde a minha infância. Que me falta ainda?” (vs.20). Veja que o jovem da passagem era um bom judeu, muito fiel e zeloso. A gente o conhece por jovem rico, mas bem podíamos chamá-lo de o jovem fiel, o jovem bom, o jovem zeloso. Todos estes bons adjetivos servem para este jovem.
E ainda um a mais: um jovem inquieto. Onde a gente percebe a sua inquietude? Quando ele diz “que me falta ainda?” Na verdade, para os outros, para a sociedade judaica da época, não faltava nada mais. Ele já era um jovem perfeito. Mas o seu coração lhe dizia que ainda faltava algo para alcançar a plenitude do conhecimento e do amor a Deus, ou seja, para ter a vida eterna.
O jovem aspirava a ter esta vida eterna. E não é uma vida eterna lá no futuro, depois que ele fosse velho e então morresse e tivesse o encontro com Deus no céu. A vida eterna se dá no aqui e agora, uma vez que ela brota do seu interior. Há um outro livro interessante de Anselm Grün que se chama “O céu começa em você”, que indica neste sentido, vale dizer, que a vida eterna começa em você, no seu dia a dia, na sua família, nos seus estudos, no seu trabalho, na sua espiritualidade individual e comunitária.
Só que a resposta do jovem não foi a que ele esperava. Disse-lhe Jesus: “ Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobre e terá um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!” (vs. 21-22).
Jesus então chama o jovem a segui-lo. Mas para tanto o jovem teria que  vender os seus bens e dar aos pobres. Aqui um chamamento ao desapego e à caridade.
Vender os bens é se desapegar das coisas, por menores que elas sejam. Conta Jean Ives Leloup, no livro Escritos sobre o Hesicasmo, que um monge havia abandonado tudo para viver a vida monástica, em oração, jejum, pobreza, enfim em total abandono. Na sua cela, ele tinha apenas uma caminha, uma mesinha, onde ficava um lápis, um caderno e uma borracha, com o que ele anotava as suas reflexões. Um dia, um outro monge pegou a borracha emprestado e não devolveu. O monge então ficou ansioso, nervoso ou, como dizem os jovens hoje, tenso. Uma simples borracha que ele não conseguir se desapegar.
       Muitas vezes quando vejo pessoas criando caso com coisas pequenas, em casa, no trabalho, na escola, no trânsito, na Igreja, sempre me lembro da borrachinha. Como é difícil se libertar das coisas que julgamos ter, quando de fato nada temos que não nos tenha sido dado por Deus...
E não só desapegar das coisas como também colocá-las a serviço do outro. O meu tempo, os meus dons, as minhas idéias, o mau amor entregue aos “pobres de Deus”, ou seja, àqueles que deles necessitam, que necessariamente não precisam ser pobres materialmente.
O jovem, contudo, ouvindo as palavra, foi embora triste, porque possuía muitos bens.
A negativa do jovem de seguir Jesus trouxe como conseqüência a sua tristeza. Ele que cumpria todos os mandamentos, que estava sempre no templo, não conseguiu se desapegar das suas coisas, das suas manias, dos seus “bens” para seguir Jesus.
E nós, quais os “bens” temos que vender para seguir decididamente Jesus?

4.    A resposta do jovem rico: comparação com outros encontros e outras respostas.

Vale notar que o jovem rico não conseguir dar uma resposta positiva a Jesus. Foi ele quem foi atrás do Mestre e desejou o encontro. Ele era um cara bom, mas não conseguiu se desvencilhar das coisas para seguir Jesus. Por isso, ficou triste.
Santo Agostinho nos diz que:"A busca de Deus é a busca da alegria. O encontro com Deus é a própria alegria." Encontrar Jesus nos dá uma alegria permanente  e, por vezes, inexplicável do ponto de vista meramente material.
Diz também o Pai de nossa comunidade:"O pecado é o motivo de tua tristeza. Deixa que a santidade seja o motivo de tua alegria."(Santo Agostinho)
Esta experiência que o jovem rico não conseguiu ter, muitos tiveram. Na reunião passada, nós vimos a resposta de Pedro e Paulo que disseram sim ao chamado. Levi, que era outro nome de Mateus, foi chamado e também disse sim.
Santo Antão, em 270, quando tinha por volta de vinte anos, leu a passagem do jovem rico e resolveu fazer um caminho diferente. Ele e a irmã tinham ficado órfãos e os pais lhes deixaram uma grande fortuna. Antão separou uma parte para os estudos da irmã e o resto vendeu, deu aos pobres e foi viver como um monge, indo depois viver no deserto do Egito, iniciando aí a tradição dos monges do deserto, dos grandes padres do século IV e V, inclusive, posteriormente, de Santo Agostinho, que igualmente teve a experiência de vender tudo e criar um mosteiro para a sua comunidade.
O encontro e o chamado é para cada um. A resposta a ser dada depende de você!

5.    Explicação de Jesus.
Nos versículos 23-26, Jesus diz ser difícil a um rico entrar no Reino dos Céus. Mas, Ele diz também: “Aos homens isto é impossível, a Deus tudo é possível.”
Para fazer o encontro com Jesus, temos, como dito antes, que abandonar uma série de “bens”, de manias, vícios. Mas a força vem do próprio Deus, pois para Ele nada é impossível.
Finalizando, vale trazer mais um pensamento de Agostinho:"Só o que faz bem ao homem pode fazê-lo feliz."
Sejamos felizes!

Leonardo Buissa, julho de 2011.

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