quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O primeiro natal

Nestes dias de dezembro, estamos encerrando o ano de 2010. Tempo de muito trabalho, de trânsito caótico, de shoppings lotados, de confraternizações entre os colegas de trabalho, familiares e amigos. No meio destas atividades todas, deste barulho todo – externo e interno – sobra pouco para o silêncio, para o encontro com o Sagrado.
Característica da vida moderna: perdemo-nos no acidental, esquecendo-nos do essencial...
Porém, nós sabemos que a essência das coisas é o que efetivamente importa, é o que dá sabor, o que verdadeiramente enriquece. Sabemos disso pela nossa consciência, mas principalmente pelos nossos sentidos.
Dias como os desta semana, nublados e chuvosos, me transportam ao presente existente na minha memória. Ao ensinar sobre o tempo, Santo Agostinho indica que o passado não existe, o que há é o presente em três dimensões: na memória, na contemplação e na expectação.
Quando o dia amanhece chuvoso como hoje, a sensação que tenho é a da alegria da minha infância no Setor Sul, onde casas se enfileiravam, uma do lado da outra, com muros baixos, portãozinho que minhas pernas de cinco anos conseguiam facilmente pular. A sensação é da alegria de se aguardar o natal, fugindo da chuva ou fugindo para ela, montado numa calói verde ou numa morark amarela.
Ao ver as luzes de natal, lembro do shopping da minha meninice: lojas abertas até de noite na saudosa rua 4, no Centro, da pequena, bela e provinciana Goiânia dos anos setenta.
Acreditava no papai noel e jurava para as outras crianças da rua que tinha ouvido os seus passos durante a noite. Lutava tenazmente para ficar acordado na noite de natal para surpreender o bom velhinho justamente no ato da entrega do meu esperado presente.
Vida pura, simples, despojada, verdadeira, vida saborosa de criança que teima em habitar na minha mente, no meu coração, nos meus sonhos...
O Natal é tempo de contemplar o menino. Contemplar o menino que nos foi dado, o Deus Forte, o Príncipe da Paz, como exalta o profeta Isaías. O menino que um dia disse deixe vir a mim as criancinhas porque o Reino de Deus é de quem tem um coração de criança.
Este menino que hoje celebramos o aniversário foi o responsável pelo primeiro natal. Um natal sem festa, sem peru, sem barulho. Natal do simples, do pobre, do verdadeiro.
Um outro menino, mil duzentos e vinte e três anos depois, retratou com a sua pureza a cena mais conhecida pelos cristãos. Francisco de Assis, o pobre de Deus, começou a fazer presépios, palavra que significa manjedoura de animais, onde o Rei dos Reis nasceu.
Quando vejo um presépio, o menino que vive em mim, pára, sorri, contempla e medita. A simplicidade do nascimento do menino Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, me renova a convicção, presente nas crianças, de que nada supera o simples: tomar banho de chuva, um abraço apertado, um bolo de chocolate, repartido no mesmo prato com quem se ama , rir e chorar e chorar de rir; momentos que antecipam a alegria eterna que se encontra no presente esperado, aspiração do futuro, que é ser feliz!
Mirando no menino, em sua Mãe, em José, nos magos e nos animais, na beleza simples do presépio, decido formular o meu pedido de presente para este natal. Quero receber um CD que toque todos os dias de 2011, cujas faixas são as seguintes:
1. “A medida do amor é amar sem medida”. (Santo Agostinho)
2. “Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível e de repente você estará fazendo o impossível.” (São Francisco de Assis)
3. “Não faças coisa alguma, nem diga palavra alguma que Cristo não faria nem diria se encontrasse as mesmas circunstâncias.” (São João da Cruz)
4. “O mais rico não é o que mais tem, mas o que menos precisa” (Pe. José Florêncio)
5. “O extraordinário é ser feliz no ordinário.”(anônimo)

E o hit que eu mais gosto, vai tocar o dia inteiro, feito música de adolescente: “Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça e tudo mais vos será dado em acréscimo.” (Jesus)
Sei que não sou merecedor de tão rico presente, mas também sei que Aquele que pode me dá-lo supera, com a sua grandeza, a minha pequenez.
Santo, simples e alegre natal!

Leonardo Buissa

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