sábado, 26 de março de 2011

Parabola do Trigo e o Joio


1. Parábolas do Reino.
No capítulo 13 de Mateus, no 4 de Marcos e nos capítulos 8 e 13 de Lucas, estão as parábolas em que Jesus anuncia o Reino de Deus. São, em verdade, sete: 1. O Semeador; 2. O joio e o trigo; 3. O grão de mostarda; 4. O fermento que a mulher põe na massa; 5. O tesouro escondido; 6. A pérola preciosa; 7. A rede jogada ao mar.
No Inquietude, a gente já trabalhou a parábola da pérola preciosa, a do semeador e, na última reunião, o grão de mostarda.
Agora nós vamos refletir sobre a parábola do trigo e do joio.

2. A parábola do trigo e do joio.
Mateus 13, 24-30: “Jesus propôs-lhes outra parábola: O Reino dos céus é semelhante a um homem que tinha semeado a boa semente em seu campo. Na hora, porém, que os homens repousavam, veio o inimigo, semeou o joio no meio do trigo e partiu. O trigo cresceu e deu fruto, mas apareceu também o joio. Os servidores do pai de família vieram e disseram-lhe: - Queres que vamos e o arranquemos? – Não, disse ele: arrancando o joio, arriscais a tirar também o trigo. Deixai-vos crescer juntos até a colheita. No tempo da colheita, direi aos ceifadores: arrancai primeiro o joio e atai-o em feixes para o queimar. Recolhei depois o trigo ao meu celeiro.”(Bíblia da Ave-Maria).
O texto começa falando que Jesus propôs outra parábola. Pois bem, convém lembrar que a primeira parábola (Mt 13, 1-23) foi a parábola do semeador. Logo depois da parábola do trigo e do joio, que agora meditamos, vem a parábola do grão de mostarda, já refletida na última reunião do Inquietude. Assim, geograficamente, a parábola em foco está situada entre a do semeador e a do grão de mostarda, sendo que a explicação de Jesus sobre o trigo e o joio só aparece depois da parábola do grão de mostarda, quando Ele e os discípulos voltaram para casa. Resumindo: 1. O semeador; 2. O trigo e o joio; 3. O grão de mostarda; 4. A explicação dada aos discípulos sobre o trigo e o joio.
Interessante notar que, ao que tudo indica, os discípulos não tiveram dúvida a respeito das parábolas do semeador e do grão de mostarda. A primeira parábola porque Jesus já lhe explica o sentido nos versículos 18 a 23 e a do grão de mostarda pela sua clareza, eis que tudo na vida, todos os nossos planos, aspirações, desejos, sejam pessoais, profissionais ou comunitários começam pequeninos e vão crescendo, demandando para isto de zelo, de cuidado, de perseverança.
Cumpre observar ainda que, diversamente da Parábola do Semeador, em que na terra boa as sementes só deram trigo cem, sessenta e trinta por um, aqui vai haver uma mistura entre o trigo e o joio. Mesmo havendo o joio no meio do trigo, o pai de família, senhor da plantação, deixou ele crescer, não atendendo aos apelos dos servidores para que arrancasse o joio. E assim o fez porque vislumbrava que se arrancasse o joio, arrancaria o trigo também.Este pai é zeloso e cuidadoso com o trigo e faz de tudo para não prejudicá-lo, ainda que permita que o trigo conviva com o joio.
Resta claro aqui o amor e a misericórdia de Deus que nos conhece, sabe que estamos no mundo, mas não somos do mundo, como disse São Paulo. É um Deus que nos dá a liberdade, ou seja, o livre arbítrio que, na concepção de Santo Agostinho, é a liberdade para fazer o bem, para fazer o que se deve fazer.
Por fim, vê-se que quando chegaram em casa, Jesus teve de explicar a parábola, conforme será observado no tópico subseqüente.

3. A explicação da parábola.
MT 13, 36-43: “Então despediu a multidão. Em seguida, entrou de novo na casa e seus discípulos agruparam-se ao redor dele para perguntar-lhe: Explica-nos a parábola do joio no campo. Jesus respondeu: O que semeia a boa semente é o Filho do Homem. O campo é o mundo. A boa semente são os filhos do Reino. O joio são os filhos do Maligno. O inimigo, que semeia, é o demônio. A colheita é o fim do mundo. Os ceifadores são os anjos. E assim como se recolhe o joio para jogá-lo no fogo, assim será no fim do mundo. O Filho do Homem enviará seus anjos, que retirarão de seu Reino todos os escândalos e todos os que fazem o mal e os lançarão na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes. Então, no Reino de seu Pai, os justos resplandecerão como o sol. Aqueles que tem ouvidos, ouça.”(Bíblia da Ave-Maria)
A explicação de Jesus é direta: 1. O Semeador é Ele mesmo (igual na Parábola do Semeador ou da Semente); 2. O campo é o mundo; 3. O trigo, a semente boa, são os filhos do Reino; 4. O joio são os filhos do maligno; 5. A colheita é o fim do mundo.
4. A importância da interpretação desta parábola por Santo Agostinho.
Santo Agostinho fez uma interpretação desta parábola que teve o mérito de evitar o sectarismo, o preconceito e ressaltar a tolerância. Por isso, a sua concepção é bem atual a fim de se evitar o fanatismo, a intolerância religiosa.
Atenção, jovens do Inquietude! Fanatismo não se mede pela sua freqüência à Igreja e sim pela intolerância com o diferente. Fanático é aquele que acha que só ele está salvo, só ele tem razão, só ele e seu grupo são dignos do amor de Deus. É uma forma de soberba religiosa!
E o que isso tem a ver com a presente parábola? Eis o ensinamento do Frei Raniero Cantalamessa, Pregador do Vaticano: “Esta parábola de Jesus, na Antiguidade, foi objeto de uma memorável disputa que é muito importante levar em consideração também hoje. Havia espíritos sectários, donatistas, que resolviam a questão de maneira simplista: por um lado, está a Igreja (sua igreja!), constituída somente por pessoas perfeitas; por outro, o mundo, repleto de filhos do maligno, sem esperança de salvação.A estes se opôs Santo Agostinho: o campo, explicava ele, certamente é o mundo, mas também na Igreja, lugar em que vivem juntos santos e pecadores e em que existe lugar para crescer e converter-se. ‘Os maus – dizia ele – estão no mundo para converter-se, ou para que por meio deles os bons exerçam a paciência.’”(http://www.cantamalessa.org).
Assim, Santo Agostinho nos ensina que há trigo e joio mesmo dentro da própria Igreja e que não devemos imaginar que só por sermos católicos estamos salvos ou que só pelo outro não comungar da nossa fé ele já está condenado. Esta visão sectária não se concilia com a acolhida, o amor, a tolerância, inerentes ao cristianismo.
Aliás, dentro do seio da própria Igreja, da comunidade, não se deve fazer uma separação de forma a se imaginar que o nosso grupo é melhor do que outro, que este movimento é superior ao outro, mais devoto, mais inteligente, mais capaz. Nada disso, somos diferentes, porém caminhando juntos no mesmo rumo. A forma de andar é diferente, o ritmo é distinto, mas o caminho é um só, endereçado ao mesmo destino, o Reino dos Céus.

5. O trigo e o joio dentro de nós.
Um outro aspecto que não se pode perder de mira é que o trigo e o joio estão também dentro de nós, em constante luta. Os vícios e as virtudes estão presentes em nós e cabe-nos desenvolver estas e eliminar aqueles.
De novo, vale ouvir o Pregador do Vaticano: “Além disso, também existe joio dentro de cada um de nós, não somente no mundo e na Igreja, e isso deveria eliminar a nossa propensão de apontar com o dedo os demais. Erasmo de Rotterdam respondeu a Lutero, que o reprovava por sua permanência na Igreja Católica apesar da sua corrupção: ‘Suporto esta Igreja com a esperança de que seja melhor, pois ela também está obrigada a suportar-me esperando que eu seja melhor.’

6. A parábola e a esperança da Salvação.
Por último, vale observar que o último versículo da parábola, o de número 43, diz que então, no Reino de seu Pai, os justos resplandecerão como o sol. É uma promessa que devemos crer. Pode o joio crescer junto ao trigo, pode parecer que o joio triunfará no mundo, na Igreja e no nosso coração, mas, no final, o joio será queimado e só restará o bom trigo no mundo, na Igreja e em nossos corações.
Assim como um belo dia de sol após uma tempestade, o Senhor nos promete que haverá um resplendor, forte e perene como o sol, para a vida dos justos, ou seja, para aqueles mansos, humildes e puros.
Aprendamos a viver como sementes de trigo que dão frutos cem por um e que, mesmo em meio ao joio, têm a convicção de que a justiça triunfará!

Leonardo Buissa

















“Em muitos milênios de vida sobre a terra, o homem se acostumou com tudo; adaptou-se a todo clima, imune a muitas doenças. Existe algo ao qual ele nunca se acostumou: a injustiça.” (Frei Raniero Cantalamessa).



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