domingo, 10 de abril de 2011

Parábola do Filho Pródigo

                      
1. Introdução.
            Nas reuniões passadas foram refletidas as parábolas do reino, como a pérola preciosa, o semeador, o grão de mostarda e,  por último, o joio e o trigo.
            Hoje vamos meditar sobre uma parábola muito conhecida que é a parábola do Filho Pródigo.

2. O filho pródigo(Lucas 15, 11-32). Localização da parábola e sua ligação com as parábolas da ovelha perdida e da moeda perdida.
            Cumpre, inicialmente, situar esta parábola. Em primeiro lugar, deve-se observar que estamos no Evangelho de Lucas que é considerado o Evangelho da misericórdia, tanto é que enquanto Mateus diz “sede perfeitos, como vosso Pai é perfeito”, Lucas termina o Sermão da Montanha dizendo “sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso.” A ideia do Pai Misericordioso permeia todo o Evangelho de Lucas.
            Em segundo plano, vale notar que o capítulo 15 começa informando que os pecadores e publicanos aproximavam-se de Jesus para ouvi-lo. Vê-se, então, que Jesus andava com os excluídos, com os marginalizados pela sociedade de então. Tanto é verdade que no versículo 2 o evangelista narra que os fariseus e escribas murmuravam: Este homem recebe e come com pessoas de má vida! Fazia-se então uma discriminação entre os bons e os maus ou como vimos na parábola do joio e do trigo havia um sectarismo entre o trigo (nós, os santos) e o joio (eles, os pecadores).
            Jesus se insurge contra tal comentário preconceituoso, propondo, neste capítulo 15 de Lucas, três parábolas distintas: a da ovelha perdida, a da moeda perdida e a do filho (perdido) pródigo. O pastor fica cheio de júbilo ao encontrar a ovelha que se perdeu. A mulher reúne as amigas e vizinhas para celebrar o fato de ter encontrado a moeda perdida. Assim também o pai faz festa por ter encontrado o filho perdido.
            A figura central das três parábolas é a do pai, pastor e mulher zelosos e misericordiosos. É o nosso próprio Pai, um Deus que cuida de nós.
             E não cuida porque só tem um para cuidar. Não se trata disso. O pastor tinha cem ovelhas e deixou noventa e nove no deserto para ir atrás da ovelha perdida. A mulher tinha dez dracmas, mas vai atrás da que perdeu. O pai tinha dois filhos, um ficou com ele, ajudando o tempo todo, o outro “caiu no mundo”, mas ele ficou radiante com a volta daquele filho perdido.
            Observa-se, portanto, que cada um de nós é importante para Deus! Ele te conhece pelo nome, o seu nome está gravado na palma das mãos Dele e Ele diz “tu és meu”!

3. A herança.
            No versículo 11 diz que um homem tinha dois filhos. No 12 diz que o mais moço disse ao pai: pai, dá-me a parte da herança que me toca. Então o pai repartiu entre eles os seus haveres.
            Na verdade, o pai não era obrigado a repartir o patrimônio com os filhos. Juridicamente, nem havia herança, uma vez que não existe herança de pessoa viva. O patrimônio era do pai e o pai não tem obrigação legal de guardar bens para deixá-los aos filhos. Os filhos só tem direito a herança quando o pai morre e o pai estava bem vivo. Mas o pai, que era misericordioso, partilha o patrimônio entre os filhos. Pura liberalidade...Puro amor...
            Comentando sobre a herança, Santo Agostinho diz: “ O patrimônio que este recebeu do Pai é a inteligência, a mente, a memória, o engenho e tudo o que Deus nos deu para que O conhecêssemos e Lhe déssemos culto.”
            Esta é a verdadeira riqueza que estamos aprendendo a conquistar, dia a dia, no Grupo Inquietude, uma riqueza que a traça não rói e nem o ladrão rouba, um tesouro guardado em nosso peito e em nossa mente.

4. O filho mais novo.
            O filho mais novo pede a herança e, poucos dias depois, ajunta tudo o que lhe pertencia e parte para um país muito distante. Distante de quem? Obviamente, distante do Pai. Santo Agostinho nos ensina: “Distância significa: o esquecimento de seu Criador.”
            Quantas vezes nós, em nossa vida diária, vamos a um País distante? Não precisa ir ao Japão, à Austrália, para ir a um País distante. A distância que nos separa do amor de Deus não é medida geograficamente, por qualquer espécie de unidade de medida, mas sim medida pelas ações que ocorrem em dissonância com a vontade de Deus.
            O filho mais moço viveu dissolutamente e dissipou sua fortuna. Esbanjou toda a sua inteligência, a sua capacidade, a sua juventude com o pecado. Afastou-se da alegria e da segurança da casa do pai e foi viver nas drogas, na bebida, na prostituição, na violência, no egoísmo, na inveja, na ambição, apartado da Graça de Deus.
            E qual a conseqüência deste tipo de vida? Santo Agostinho comenta: “Não é de admirar que essa orgia acabasse em fome.” A Palavra diz que começou a passar penúria. A ausência de Deus nos dá fome: de alegria, de paz, de amor, enfim, de vida plena...” A penúria que aparece nas formas do desamor, da tristeza, da depressão, do alcoolismo, das tendências autodestrutivas...
            Desejava comer o que os porcos comiam. Prega Santo Agostinho: “À margem de Deus, por entregar-se a seus próprios recursos, foi submetido à servidão e lhe tocou o ofício de apascentar os porcos, o que significa a servidão mais extrema e imunda...” Poderíamos dizer, o jovem chegou ao fundo do poço e desejava comer o mesmo alimento dos porcos. Muitos de nós nos saciamos com o alimento dos porcos (as drogas, os vícios, o consumismo, a luxúria) quando temos à disposição o Pão do Céu, o alimento que sacia toda a fome, na mesa da eucaristia.
            Mas o filho pródigo entrou em si. Santo Agostinho exorta: “Reparai no que diz o Evangelho: ‘Entrando em si...’; primeiramente, voltou-se a si e só assim pôde voltar ao pai.” O primeiro passo para voltar à casa do pai é entrar em si, é fazer um exame de consciência e daí ver e assumir que errou.
            O jovem não somente caiu em si, mas fez uma reflexão serena e sincera. A realidade era que os empregados do pai eram melhor tratados do que ele estava ali e que iria confessar ao pai que havia pecado e que desejava ser tratado como um empregado e não como filho, eis que se achava indigno de tal. Nós também, muitas vezes, nos achamos indignos de Deus, mas Deus nos ama e nos quer, apesar dos nossos pecados.
            E o filho tomou a decisão: Levantou-se e foi ter com o pai. A atitude de ir atrás, de levantar e caminhar rumo ao pai é nossa. Ele nos espera e respeita no nosso tempo!
Sobre esta realidade, eis a lição de Santo Agostinho: “ Por vezes, em meio a uma tribulação ou tentação, alguém pensa em orar, e, no próprio ato de pensar o que irá dizer a Deus na oração, considera que é filho e que, como tal, tem direito a reivindicar a misericórdia do Pai. E diz de si para si: ‘Direi a meu Deus isto e aquilo; não temo que, em lhe dizendo isso, e chorando, não seja eu atendido pelo meu Deus’.Geralmente, Deus já o está atendendo quando ele diz essas coisas; e mesmo antes, quando as cogita, pois mesmo o pensamento não está oculto ao olhar de Deus. Quando o homem delibera orar, já lá está Aquele que lá estará quando ele começar a oração.”


4. O pai.
            A figura do pai misericordioso é o que mais se deve observar na parábola. O pai vê o filho, vindo lá longe, imundo, desnutrido, doente, cabisbaixo, se sentindo “um zero à esquerda”, um nada e vai ao encontro e lança-se ao pescoço e o beija.
            O pai acolhe o filho e nem deixa que ele fale sobre o seu pecado. Quando o filho fala para ser tratado como um dos empregados, o pai  nem dá “moral”, nem ouve o filho e já manda trazer a melhor veste, colocar o anel no dedo, calçado nos pés e também um novilho gordo para fazer festa, eis que o filho estava morto e reviveu.
            A veste faz lembrar o batismo, o filho que estava perdido retorna, volta a ser parte. O anel indicando o Espírito Santo, a benção de Deus, o calçado para que o filho possa andar por caminhos corretos e o novilho para celebrar na mesa a festa. Nós somos convidados a celebrar diariamente na mesa do Senhor a festa do nosso retorno à casa paterna.
           
5. O filho mais velho.
            Este  ficou bravo, achando-se injustiçado. Nós muitas vezes achamos que Deus não é justo conosco. Mas o pai misericordioso explica: Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Convinha, porém, fazermos festa, pois este teu irmão estava morto e reviver; tinha se perdido e foi achado.
            Na verdade, o bom filho não tinha somente uma parte da herança ou somente um cabrito para festejar com os amigos, tinha todo o patrimônio -  “tudo o que é meu é teu”.Esta é a realidade de quem está junto ao Pai, tem todo o patrimônio, toda a riqueza, no dia a dia, no respirar, no andar, no falar, no conversar. A presença do Pai em sua vida é tão natural que às vezes ele nem percebe, faz parte da sua própria natureza, da sua própria vida.

6. Conclusão.
            Deus nos acolhe, nos abraça, não importa o que tenhamos feito e quando andamos com ele temos todo a sua riqueza em nossa vida.
            Encerro com uma derradeira lição de Santo Agostinho: “Assim, o peso do braço do pai sobre o pescoço do filho não o carregou, mas o aliviou, foi-lhe honroso e não oneroso.”
            O encontro com o Pai nos alivia e nos honra, hoje e sempre!

                                               Leonardo Buissa.                  

           



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